LUANA INTERROMPIDA: NO CAMINHO DA VIDA O RACISMO E A LESBOFOBIA

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“Não serei livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas” Audre Lorde

*Por Emanuelle Goes publicado em População Negra e Saúde

Luana ceifada, Luana exterminada, Luana assassinada, causa básica da morte: racismo e lesbofobia, Luana transgrediu a sociedade brasileira porque queria ser inteira, queria ser só ela, amar outras mulheres iguais a ela, mas ela não estava autorizada a tamanha façanha, o estado brasileiro não autoriza, os lesbofobicos não autorizam, os misóginos não autorizam, os racistas não autorizam, então a policia executa.

Para situar a historia no dia 9 de abril de 2016, Luana Barbosa dos Reis, mulher lésbica-mãe-preta-periférica, do interior de São Paulo, foi abordada por três policiais militares e espancada na frente do próprio filho de 14 anos. Internada na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, faleceu quatro dia depois, não resistindo aos ferimentos, sofreu uma isquemia cerebral aguda causada por politraumatismo crânio-encefálico. Leia mais no Blog Gorda e Sapatão

O Brasil é o País que mais mata a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans no mundo. Em 2011, segundo o Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, a maioria das vítimas assassinadas da População LGBT eram travestis (49%), e gays (46%), e apenas 3,2% eram lésbicas, as lésbicas ainda tem menor visibilidade na tipificação do crime por lesbofobia. O relatório ainda mostra que, apenas 8,6% das Lésbicas denunciam a violência sofrida, ficando atrás de Gays (24,5%) e Travesti (11,9%).

Luana teve uma abordagem diferenciada por ser mulher negra e se vestir de forma “masculina”, mas sabendo do seu direito ela exigiu ser revistada por uma policial feminina e isso foi suficiente para que os policiais justificassem o ato racista e lesbofóbico.

No entanto as mulheres negras se deparam com a violência mais letalmente como já aponta os dados do Mapa da Violência de 2015 demonstrando o aumento da morte por causas violentas de mulheres negras em 54% em dez anos. O peso do racismo estruturante em nossa sociedade e na ação do estado, a sua atuação sistêmica e institucional autoriza a nos exterminar e fazer o que quiser com nossos corpos e nossas vidas.

Enquanto a interseccionalidade do racismo e sexismo, juntamente com outras opressões estruturar as ações do estado pouco avançaremos na garantia dos direitos humanos, constitucionais e, sobretudo o direito a vida, pois segundo Audre Lorde “As ferramentas do mestre nunca destruirão a casa-grande” e Angela Davis diz o seguinte “O desafio não é reivindicar oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser firmado. Este é o único modo pelo qual a promessa de liberdade pode ser estendida às grandes massas”

Vamos fazer da nossa voz, a voz de Luana, vamos lutar contra todas as opressões que atingem as mulheres negras, pois só seremos livres quando todas forem livres, pois somos o reflexo no espelho, uma da outra.

*Emanuelle Goes – Blogueira, Enfermeira, Pesquisadora em Saúde das Mulheres Negras, Movimento de Mulheres Negras  e coordenadora do Programa de Saúde do Odara – Instituto da Mulher Negra|emanuellegoes@gmail.com

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