Morre importante figura da cultura baiana: a cozinheira Alaíde do Feijão

Alaíde estava internada e faleceu nesta segunda-feira (31), após testar positivo para Covid-19 pela segunda vez

Por Jéssica Almeida / Redação Odara.

Morreu nesta segunda-feira (31), uma figura muito importante para a cultura baiana: a cozinheira Alaíde Conceição, de 73 anos, dona do famoso Restaurante Alaíde do Feijão, localizado no Centro Histórico de Salvador. Durante a pandemia, o restaurante que se tornou conhecido como um dos mais tradicionais espaços de resistência negra da Bahia, chegou a ser fechado. 

Alaíde Conceição – Foto: Reprodução / Redes Sociais.

Em março do ano passado, a cozinheira testou positivo para Covid-19. Na ocasião, ela se manteve internada no Instituto Couto Maia, hospital que atua exclusivamente no tratamento da doença. Após doze dias de internamento, ela foi transferida para o hospital Irmã Dulce, onde deu continuidade ao tratamento.

Em abril do mesmo ano, Alaíde publicou em suas redes sociais que estava totalmente recuperada da doença. “Olha eu aqui de novo! Tenho Fé que após esse caos que estamos passando na nossa saúde com o Covid-19 irei conseguir estar junto, matando a saudades e comemorando com vocês lá no nosso Alaíde do Feijão”, escreveu a cozinheira.

Alaíde do Feijão em abril do ano passado – Foto: Reprodução / Redes Sociais.

Na tarde de ontem, a informação de sua morte foi divulgada por seus familiares em suas redes sociais. Segundo eles, Alaíde estava internada em um hospital da capital por ter testado positivo para o Covid-19 pela segunda vez. 

Segundo o neto da matriarca, Eldo Neves, Alaíde sofreu uma parada cardiorrespiratória, como sequela da Covid-19. “É com muita dor e tristeza que venho informar o falecimento de minha avó Alaíde do Feijão”, escreveu ele.

Foto: Reprodução / Redes Sociais.

Ainda na tarde de ontem, alguns coletivos do Movimento Negro e até o ator Lázaro Ramos, lamentaram a morte de Alaíde nas redes sociais. “Acabo de receber a notícia que Dona Alaíde do Feijão, nos deixou nesta segunda-feira. Me sinto privilegiado por ter conhecido ela e ter convivido com seu sorriso, com suas palavras, sua sabedoria e com seu feijão. Uma figura importantíssima da nossa cultura baiana, que desde os anos 70 vinha alimentando cabeças e mentes”, publicou o ator.

Tradição Familiar

A cozinheira nasceu no bairro do Comércio, em Salvador, em 1948. O talento na cozinha foi herdado de sua mãe, Maria das Neves, desde sua adolescência. Quando criança, ela ajudava a mãe no tabuleiro montado na praça do Mercado Modelo, no bairro do Comércio, na região do Porto.

Na década de 1980, Alaíde assumiu o posto da mãe, que se aposentou. Ela expandiu o cardápio e a freguesia, mantendo viva a tradição familiar. O reconhecimento fez com que o alimento principal, a feijoada, passasse a integrar seu nome. E assim, tornou-se Alaíde Conceição do Feijão ou, simplesmente, Alaíde do Feijão. 

Dona Alaíde, como ficou mais conhecida, conquistou respeito entre as pessoas, graças à forma como ela tratou debates sociais urgentes, desde a época do tabuleiro na praça do Mercado Modelo.

Entre uma feijoada e outra, Alaíde foi testemunha e idealizadora de alguns dos principais movimentos políticos e culturais que tornaram referência de negritude em Salvador.

Em 2015, o restaurante mudou de endereço para se tornar uma casa de cultura, mas permaneceu no Pelourinho. 

Alaíde e a luta antirracista

O famoso restaurante foi “point” do movimento negro durante muitas décadas. Segundo sua família, a cozinheira costumava participar fervorosamente de discussões e decisões dos blocos de samba e blocos afro de Salvador, além de campanhas políticas.

Alaíde orientava e aconselhava candidatos (as), vereadores e deputados (as) e chegou a realizar mais de dez edições de um importante evento cultural e culinário: a “Quitanda do Saber”, marcado pela tradicional feijoada feita por ela e realizado sempre no mês de março, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

Alaíde sustentou as suas três filhas cozinhando. Mulher preta, empreendedora. Amigos e familiares a definem com uma mulher preta militante, antirracista, com papel importantíssimo no movimento social e na luta antirracista.

Além das filhas, Alaíde deixa sete netas e seis bisnetos. Uma perda irreparável para a cultura da cidade de Salvador e para todo o Movimento Negro, sobretudo, (os) mais antig(o)s ativistas, que a conheciam há décadas e nutriam um imenso  afeto por ela.

O seu tempero era inconfundível e a sua força inigualável. Que seu legado de força continue a inspirar muitas mulheres negras chefes de família da Bahia e do Brasil!

Informações sobre o sepultamento ainda serão divulgadas.

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