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NOTA DE REPÚDIO CONTRA AÇÃO GENOCIDA DA POLÍCIA MILITAR NA COMUNIDADE DA GAMBOA

Até quando as nossas comunidades serão alvo de operações sangrentas? Até quando o Estado vai ficar impune?

Por Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar

O Odara – Instituto da Mulher Negra vem manifestar seu repúdio à ação policial que culminou na morte de três jovens negros na comunidade da Gamboa. em Salvador/BA. Patrick Sapucaia, Alexandre Santos e Cleberson Guimarães estavam desarmados quando foram surpreendidos pela ação violenta que ceifou suas vidas na madrugada do dia 01 de março de 2022.

Até quando as nossas comunidades serão alvo de operações sangrentas? Até quando o Estado vai sair impune? Quanto vale a vida dos jovens negros? Corpos negros periféricos, criminalizados pela ideia racista de que toda pessoa negra residente de Favela é bandido ou tem ligação com o crime organizado. 

Produzem rap, pagode e funk, fazem corpos influenciarem com danças e trends gravadas em prédios bonitos, piscinas e festas de pessoas não periféricas que nunca saberão o que é perder a vida pela violência do Estado. Na era das redes sociais, estas cenas vão reelaborando as dinâmicas da vida real, romantizando a pobreza, reafirmando o mito da democracia racial e controlando as narrativas sobre o genocídio negro no Brasil. 

A Gamboa se tornou um ambiente frequentado inclusive pela classe média soteropolitana, por um público que apresenta-se atuante nos campos ditos progressistas da política. No entanto, há anos a comunidade faz apelos por políticas públicas que nunca chegaram, mas recebe com frequência investidas violentas das polícias. O Estado que não chega com políticas públicas, chega com a sua mão armada!

O local também já foi palco de diversas produções audiovisuais, inclusive de artistas nacionalmente populares, se tornou um ponto turístico bastante disputado nos últimos anos, tem efervescência cultural, reconhecimento pelos destaques gastronômicos e, ainda assim, permanece sendo um território criminalizado e atravessado por uma política de drogas racista.

Em pesquisa intitulada “Sou Parte de Você Mesmo que Você me Negue”, a  Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas (INNPD) demonstra que há uma distinção de tratamento pelo Estado aos territórios da cidade: aqueles que são ocupados por maioria branca, são intocáveis e mesmo quando há altos registros de uso/porte de substâncias entorpecentes, apresenta baixos índices de violência letal; já nos bairros ocupados majoritariamente por pessoas negras, ainda quando o uso/porte de substâncias entorpecentes é baixo, o índice de violência letal se acentua. 

Enquanto acontecia o Carnaval do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) – que está dentro deste território – e muita gente se divertia ao som das músicas baianas, essa alegria não chegava às mães da Gamboa. Estas choravam sobre os corpos ensanguentados dos seus filhos, meninos que tinham tanta vida pela frente, mas seus sonhos e seus projetos foram interrompidos cruelmente por uma execução sumária pelas mãos da Polícia Militar do Estado da Bahia. 

O grito contra a violência e o extermínio de jovens negros não é algo pontual, é um grito que está presente em nossa sociedade independente de pandemia, de guerras, de enchentes… Essa matança parece não causar comoção aos setores elitizados da sociedade civil, mas nós, mulheres negras, não dormiremos e nem cochilaremos enquanto os nossos corpos-territórios seguirem sendo tombados.

Em busca da cura, dos reencontros, do perdão e da solidariedade, nós continuamos por nós e excluídos da compaixão da nação. Continuamos sangrando, gritando: Ryan Andrew, 9 anos, assassinado pela polícia no Vale das Pedrinhas em 26 de março de 2021; Davi Oliveira, 22 anos, assassinado pela polícia em São Félix/ Recôncavo da Bahia, em 13 de dezembro de 2020; Micael Santos, 11 anos, assassinado pela polícia no Nordeste de Amaralina, em 16 de junho de 2020 e agora, mais uma vez, estamos gritando Patrick Sapucaia, Alexandre Santos e Cleberson Guimarães. PRESENTES!

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