Coluna Beatriz Nascimento #10 – 2ª Temporada: Lindacy Assis
Desde maio, temos visto por aqui, a 2ª edição da Coluna Beatriz Nascimento: uma exposição de produtos e pensamentos das mulheres participantes da 4ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento. E o décimo produto desta temporada, é mais uma carta escrita para Beatriz Nascimento, pelas mãos da Lindacy Assis.
A seguir, leia a carta na íntegra.
Olinda, 30 de novembro de 2022.
Prezada Beatriz,
Eu, Lindacy Assis, residente no município de Olinda, em Pernambuco, tive a honra de participar do curso de formação política organizado e executado de forma brilhante pelas professoras que apresentaram os temas debatidos. Fiquei feliz por ter sido selecionada para participar de um curso de grande importância para meu fortalecimento, enquanto mulher negra, convivendo com doença falciforme, geralmente nós mulheres que convivemos com esta patologia, nos vemos incapazes de avançarmos nos estudos e na escrita. Pois, as recorrentes crises de dor e infecções, requer nosso afastamento do convívio social, devido a prolongados internamentos.
Porém, ao participar desta formação, observei que somos capazes sim, de seguir adiante, precisamos apenas de acolhimento, sororidade e desejo de alcançar os sonhos. Agradeço as professoras que nos orientaram, nos mostraram os caminhos da insubimissão, da diversidade, da comunicação, da trajetória do movimento de mulheres e do movimeto feminista, de forma transparente e objetiva.
Me emocionei bastante quando falei de minha insegurança em editar um livro sobre as lutas e desafios das mulheres negras com doenças falciforme, e a professora Dayse Sacramento, trouxe as produções de mulheres negras, e me fez acreditar que é possível sim, escrever textos de forma crítica e insubmissa.
A Professora Cláudia Pons Cardoso, abordou a organização política contemporânea das mulheres negras no Brasil, o protagonismo das mulheres, as desigualdades de gênero e classe, e me tirou uma dúvida que não consegui resposta: o que o feminismo tem a ver com o movimento de mulheres negras. Então, através de sua explicação, consegui entender onde se aproximam as lutas das mulheres e das mulheres negras.
Esse curso me fez refletir sobre como é necessário ler, estudar e acompanhar as escritas de nossas escritoras negras. Como precisamos nos aquilombar para resistir às investidas dos colonizadores que querem se apropriar de nossa cultura, de nossas escritas e de nossas produções.
É chegado o momento de sermos protagonistas de nossa própria história! Por tantos séculos fomos silenciadas, mas chegou nossa oportunidade e vamos aproveitar!
Prazer em conhecê-la, Beatriz! Sua luta e trajetória nos fez chegar até aqui. Você deixou inspiração, nos apresentou caminhos e uniu mulheres negras de várias localidades, formando um verdadeiro Reinado de mulheres insubmissas.
Participar desta formação foi uma oportunidade maravilhosa. O aprendizado sem igual, e momentos inesquecíveis de trocas, emoções, desabafos, construções coletivas, conhecimentos compartilhados e relaxamentos, como forma de aliviar as tensões, facilitando o aprendizado.
Agradeço a todas que estiveram neste curso de formação. Que possamos nos encontrar nas estradas da vida, colecionando vitórias e sucessos.
MULHERES DE FOICE
Somos mulheres de Foice
As células presente em nossos corpos
Tem esse formato
Que nos faz todos os dias lutar contra a invisibilidade.
Contra a falta de atenção à saúde,
Que nos faz perder a auto estima e a dignidade.
Porém, a cada crise ressurgimos das cinzas,
Como a Fênix, firme, indomada e resistente,
Mostrando para todos
Como somos persistentes, determinadas e valentes.
Lindacy Assis
Quem é Lindacy Assis?
Lindacy Silva de Assis é licenciada em Ciências Biológicas, Especialista em Gênero e Desenvolvimento de Políticas Públicas, Coordenadora do Coletivo de Mulheres Negras de Pernambuco. Ativista do Movimento de Mulheres com Doenças Falciforme. Conselheira de Cultura de Olinda-PE, no segmento de Literatura.