Coluna Beatriz Nascimento #11 Vanessa Nascimento

Desde agosto, temos visto por aqui, a escrita insubmissa de mulheres negras na Coluna Beatriz Nascimento: uma exposição dos produtos das mulheres participantes da 3ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento. Hoje, chegamos ao décimo primeiro produto desta coluna: uma carta endereçada à Beatriz e escrita pelas mãos da Vanessa Nascimento.

A seguir, leia a carta completa.

Querida Beatriz Nascimento,

Escrevo aqui me sentindo agraciada e com esperança em dias melhores. Em tempos de retrocessos, nos fortalecer é preciso. A Escola de Ativismo e Formação Política Para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento; uma idealização do instituto Odara, voltada para mulheres negras cis e trans. Pensada, feita por e para mulheres negras, é um importante espaço de Aquilombamento. 

A escola é construída como um importante espaço de fortalecimento e diálogo, que leva em consonância as histórias e lutas das que vieram antes para construir o agora. Baseado na força e nas lutas de nossas ancestrais. Todo o conhecimento que ao longo do curso foram compartilhados, são frutos da trajetória de mulheres negras, seja na pesquisa, no ativismo ou nas lutas políticas, que nos agraciam com suas escrivências. 

Todo o curso acontece em um ciberespaço, o que possibilita que mulheres de diferentes regiões do país possam se reunir e assim acontece um importante espaço de fortalecimento e trocas afetivas e de experiências. Entendermos que os processos que nos atravessam em maiores ou menores proporções, são os mesmos, independente da região a qual vivemos ou do espaço social e econômico que ocupamos. 

A forma de experienciarmos o que é ser mulher negra, é vivida de forma particular e ao mesmo tempo muito semelhante. Uma vez que depende muito do contexto social, político e econômico em que nós mulheres negras vivenciamos. Em contrapartida, somos atravessadas pelo racismo que acaba negligenciando o nosso bem viver, e as formas de enfrentamento a estas questões. 

Com a pandemia, além das desigualdades estarem mais acentuadas, as mulheres negras são as que mais têm sofrido estes impactos. Foram elas que mais perderam seus empregos e as que mantiveram, tiveram uma jornada de trabalho muito maior que a habitual. Com menos acesso a serviços de saúde de qualidade e alimentação escassa, pois, os alimentos tiveram uma alta nos preços muito grande ao longo da pandemia; e os salários não acompanharam esses aumentos. Muitas tiveram que deixar os estudos por não poderem arcar com os custos, tendo menor acesso à educação, além do aumento da violência doméstica.

O instituto Odara e a escola Beatriz Nascimento seguem  nos orientando e construindo novas possibilidades de enfrentamento dessa problemática que nos atravessa em maiores proporções. E possibilitando a construção do bem viver para mulheres negras seguirem fortalecidas para os enfrentamentos e lutas antirracistas, antissexistas e antimachistas. É como Sankofa: nós estamos olhando o passado para ressignificar o presente e construir o futuro.

Vanessa de Jesus Nascimento.

Quem é Vanessa Nascimento?

Mulher negra, feminista, da cidade de Valença, no baixo Sul da Bahia. Pedagoga de formação e estudante do curso de Licenciatura em Computação no Instituto Federal da Bahia – IFBA, Campus Valença.

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