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Coluna Beatriz Nascimento #6 Ingrid Silva

Durante o mês de setembro, continuaremos a ver por aqui, a escrita insubmissa de mulheres negras na Coluna Beatriz Nascimento, uma exposição dos produtos das mulheres participantes da 3ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento; e o sexto produto desta série é mais uma belíssima carta endereçada à historiadora Beatriz Nascimento, pelas mãos da cursita baiana, Ingrid Silva.

Olá, Beatriz.

Meu nome é Ingrid Silva. Adoro aprender e conhecer coisas novas e sou uma virginiana estudante do curso de Serviço Social na UFBA – Universidade Federal da Bahia.

Nos últimos meses eu estive numa imersão de conhecimento, a começar por saber da sua existência e importância, não só para o movimento negro, mas para todo o Brasil e mundo.  

Durante o curso, pude aprender diversos assuntos e aprofundar sobre alguns outros já conhecidos por mim. Estive mesmo em ambiente virtual, cercada de muita energia boa e de mulheres fantásticas. Preciso dizer que em algumas aulas a conversa rendia tanto que era difícil de terminar. Mas terminávamos.

Foi uma experiência única e enriquecedora. Algo em mim mudou quando aprendi durante as aulas da professora Silvana Bispo, sobre você e o que você fala sobre o corpo território e o quilombo. 

Mudou a minha forma de ver e sentir. Ressignifiquei o que sabia sobre quilombo, pois nossas escolas de ensino básico oferecem aos alunos apenas o conhecimento que quilombo era lugar de foragidos, negros raivosos e prontos para matar. Eu me estremeci quando ouvi da professora que o quilombo era um lugar democrático, organizado, afetuoso, que ali havia amor também.

Me senti roubada, como há tanto sobre o meu povo que eu ainda não sei? Doeu, mas foi uma dor de cura, conhecimento, poder, e logo, liberdade. Após isso, eu conquistei meu corpo, por entender que eu sou quilombo. Logo, existe amor, muito afeto, força, organização e resistência. E tudo isso perpassa pela existência, espaço e tempo. Que ao ser quilombo e esse território me pertencer, eu fujo, não mais para outro lugar, mas para dentro de mim mesma; e conforto.

Ao passo que vou mergulhando no movimento, vejo o quanto temos ainda que conquistar, mas, o quanto já conquistamos. Não digo apenas do material, digo do empírico. Eu sou filha da quarta-feira, gosto de entrar na luta por justiça, e me sentia, por vezes, muito desenquadrada. Foi então que durante as aulas da professora Luciana Brito, ouvimos sobre a força das mulheres negras após abolição da escravidão. De ir à justiça e questionar sobre a guarda de seus filhos; e como eles estavam sendo tratados, pois, ainda moravam na casa grande.

Novamente eu estremeci. Como assim, essas mulheres tinham peito para ir diante de um juiz, sem saber ler ou escrever, ou ter entendimento do direito? Mas elas foram, e conseguiram. Que bom que as nossas mais velhas não desistiram. Gostaria de ter sabido antes, mas ao saber agora, me sinto confortável de saber que minha ousadia não vem de agora. 

Entendi que a arte de questionar, negociar e se comunicar adequadamente é uma técnica já conhecida por elas e de muita valia e que ainda nos serve hoje. 

Beatriz, “não sou do tempo de agora, nem de antes. Já fui e ainda não sou”.

Com Carinho e Gratidão!    

Ingrid Silva        

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