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Coluna Beatriz Nascimento #8 – 2ª Temporada: Naiane Jesus Pinto

Desde maio, temos visto por aqui, a 2ª edição da Coluna Beatriz Nascimento: uma exposição de produtos e pensamentos das mulheres participantes da 4ª Turma da Escola de Ativismo e Formação Política para Mulheres Negras – Beatriz Nascimento. E o oitavo produto desta temporada, é mais uma carta escrita para Beatriz Nascimento, pelas mãos da Naiane Jesus Pinto.

A seguir, leia a carta na íntegra.

Orí é encruzilhada sagrada do corpo da mulher negra

São Francisco do Conde, BA, 05 de Dezembro de 2022

Querida irmã, Maria Beatriz Nascimento,

Sou Naiane Jesus Pinto, sou uma mulher negra, quilombola, africana em diáspora e cientista social. Escrevo aqui de São Francisco do Conde – BA, onde nasci e vou trilhando e construindo minha trajetória. Escrevivo, aqui do  ayê (terra), mas tenho certeza que aí do Orum (céu), está a conduzir essa escrita, pois através dos seus ensinamentos, venho aprendendo que somos atlânticas e que nossa ancestralidade nos liga do ayê para o Orum e vice e versa.  

Nessas travessias, trilhas, você me ensinou muito, será sempre uma das minhas referências ancestrais. Compreendi nesse processo que Orí é encruzilhada sagrada do corpo da mulher negra, através deste me voltei para o quilombo Dom João, do qual de lá nunca sair, pois as nossas corporeidades negras vão sendo redefinidas na experiência da diáspora bem como na transmigração.

A Escola Beatriz Nascimento, que traz o seu nome, faz jus, é um aquilombamento de mulheres negras, potentes que buscam justamente o viés do ativismo e formação política para não sucumbir e re(existir), somos nós, tantas Beatriz, que desde o Nascimento, somos atravessadas por tantas formas de violências, mas aqui estamos re(existindo). 

Nesta escola, partilhamos com mulheres que assim como você, resistiram e construíram e continuam trilhando caminhos para que tantas de nós pudessem chegar até aqui. Serei eternamente grata a você, minha irmã, estou te enviando esta carta, numa segunda-feira do mês de dezembro de dois mil e vinte dois, um ano de muitas lutas, vários golpes, mas aqui estamos e já que falamos em encruzilhadas, nada mais justo que reverenciar quem a rege, Laroyê- Exú! Que nossos caminhos sejam sempre atlânticos e que as águas diaspóricas, possam sempre nos ligar em pensamento e sabedoria. 

Orí, sendo encruzilhada sagrada do corpo da mulher negra, a Escola Beatriz Nascimento, reforçou durante nosso aquilombamento que nós mulheres negras, não somos mercadorias como faziam os senhores e senhoras de engenho no período colonial, mas sim, protagonistas da nossa própria história. Que nossa Orí, encruzilhada do corpo nos conecte com a ancestralidade.

Querida, irmã. O Orí, sendo a cabeça, me fez voltar para o quilombo, sendo quilombola de Dom João em encruzilhada com Quilombo Monte Recôncavo, onde estou desenvolvendo minha pesquisa de mestrado, e São Bento, onde moro. Pois assim você me convidou a compreender-me enquanto uma mulher quilombola e sentir essa conexão do Corpo-Território-Ancestralidade. Sankofa!!!!

Saudações ancestrais!

Naiane Jesus Pinto

Quem é Naiane Jesus Pinto?

“Eu sou Naiane Jesus Pinto, tenho 37 anos. Filha de Iraci Jesus da Silva e José Carlos Costa   Pinto e de Neuza Maria Costa Vieira e Paulo Mota Vieira. Sou mulher preta, quilombola de Dom João. Sou mãe de Maria Sophia Pinto Silva. São franciscana, baiana e moradora do Bairro de São Bento em São Francisco do Conde- BA.

Sou Bacharela em Humanidades e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira- UNILAB, com Especialização em Estados e direitos dos povos e comunidades tradicionais pela Universidade Federal da Bahia- UFBA.

Sou mestranda em Ciências Sociais Desenvolvimento, desigualdade e Cultura pela Universidade Federal do Recôncavo- UFRB.

Sou pesquisadora participante e observante em movimento Sankofa,  busco compreender os processos de expropriação dos meus familiares, parentes e vizinhos do quilombo Dom João bem como os conflitos socioambientais, racismo ambiental que perdura tanto no quilombo Dom João, quanto no quilombo Monte Recôncavo, ambos em São Francisco do Conde- BA, sou trilheira, escrevivente e gosto de molhar as palavras”.

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