Assine o Boletim Odara:



Um mês sem João Vitor: Familiares e comunidade do Nordeste de Amaralina denunciam a PM pela morte do jovem de 20 anos

No último dia 25 de setembro, uma publicação diferente chamou a atenção no perfil da Pizzaria do Gago no Instagram. A pizzaria famosa no Nordeste de Amaralina, em Salvador (BA), que geralmente utiliza a rede social para postar fotos e vídeos de suas pizzas e anunciar promoções, dessa vez trazia uma foto em preto e branco, onde um rapaz sorridente aparecia posando numa praia, com a seguinte frase: “É com imenso pesar que comunicamos a partida de João Vitor de Oliveira Campos, o nosso pizzaiolo”. Em minutos começaram a surgir dezenas de comentários lamentando a morte do rapaz. “Nunca será esquecido meu irmão te amo muito irmão”, dizia um dos comentários. “Sem palavras lamentável aonde iremos parar até quando isso Jesus”, questionava outro.

Até aquele momento, a única informação sobre a morte do João Vitor disponível nos portais de notícia era de que o seu corpo foi encontrado com sinais de disparos de arma de fogo, mas que ainda não se sabia nada sobre a autoria ou motivação do crime. Mas não demorou para que amigos, familiares e moradores do Nordeste de Amaralina começassem a usar as redes sociais para denunciar a Polícia Militar como autora dos disparos que atingiram e mataram o jovem.

Dois dias depois, em 27 de setembro, algumas dezenas de pessoas se reuniram nas ruas do Nordeste de Amaralina para pedir justiça por João Vitor e paz para a comunidade. Durante a cobertura do ato realizada pelo telejornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, sob gritos de “Queremos justiça”, a mãe do jovem (que não será identificada aqui por questão de segurança) aparecia falando sobre seu filho, que descreve como um jovem trabalhador e sonhador que amava a sua profissão de pizzaiolo. 

Na reportagem, ela também contou que no domingo (24/09) João Vitor passou o dia com familiares, foi trabalhar na pizzaria como de costume e após o encerramento do expediente, foi com um amigo para uma festa de paredão no bairro. Na volta, já de madrugada, voltava para casa na garupa da moto do amigo que o acompanhava, quando foi atingido por tiros de fuzil disparados por policiais militares que, sequer, abordaram os jovens. “Meu filho não teve nem chance de defesa”, desabafou a mãe.

“Esse era o meu João”

Também entrevistamos a mãe de João Vitor para esta matéria e ela nos contou ainda estar profundamente abalada e confusa por conta da morte do filho. A mulher de 46 anos que trabalha como auxiliar de serviços gerais e faz “bicos” como manicure e vendedora de doces, está fazendo acompanhamento com psicólogo e psiquiatra e só conseguiu voltar ao serviço na última segunda-feira (23).

“Ele era um jovem alegre, brincalhão e de sorriso largo. Desde cedo sempre trabalhou e acabou pegando gosto pela profissão de pizzaiolo”, afirma a mãe do rapaz. “Ele dizia que eu era uma jóia rara. E ele era a minha jóia também. Esse era o meu João”, diz.

Ela conta que uma das metas do filho era comprar uma moto e que, inclusive, já estava pagando um consórcio para atingir esse objetivo. “Ele tinha planos de tirar a habilitação agora no mês de novembro”, diz a mãe. Ela conta ainda que João Vitor concluiu o ensino médio em 2022 e falava em fazer um curso de gastronomia para aprimorar seus conhecimentos na área. “Ele concluiu o ensino médio mesmo trabalhando à noite.  Pela manhã, mesmo cansado, ia para a escola”, afirma.

Há cerca de três anos, ela adquiriu uma casa própria e se mudou do Nordeste de Amaralina para um outro bairro. Por conta do seu emprego, João Vitor decidiu continuar morando no bairro e pagava seu próprio aluguel e contas da casa com o dinheiro do seu trabalho. “Eu deixei [ele morar sozinho] porque era um menino responsável, não era de confusão, não era de briga… Agora tá sendo muito difícil, eu não tive força nem pra entrar na casa dele ainda”, desabafa a mãe, emocionada. 

Desde pequeno, João era aluno do projeto de capoeira do Mestre Ninha (Joel Castro), que também perdeu um filho para a letalidade da Polícia Militar da Bahia no ano de 2010. Até hoje, os policiais responsáveis pela morte do pequeno Joel, filho de Mestre Ninha, ainda não foram a júri popular  pelo crime cometido.

Assim como Mestre Ninha, a mãe de João começa agora uma luta para fazer justiça por seu filho e para que o Estado se responsabilize por mais uma vida jovem e negra tirada de forma tão precoce do convívio com a família e com a comunidade. Ela passou a ser acompanhada pelo projeto Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar e contará com assessoria jurídica para levar o caso adiante. “Espero que  a justiça seja feita. Meu coração de mãe clama por justiça”, conclui.

Assine o Boletim Odara:



Compartilhe:

Comentários

Uma resposta para “Um mês sem João Vitor: Familiares e comunidade do Nordeste de Amaralina denunciam a PM pela morte do jovem de 20 anos”

  1. É mais um jovem inocente que tem a vida tirada pelo o nosso estado representando pela a polícia assasina sem agravar a toda comparação, governador cadê as câmeras nos uniformes desses policiais🤷‍♂️,p/que pelo menos diminua essas matracas, como a do nosso menino João Vitor 😪😔,e outros mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *