Vereadora de Muritiba (BA), Perla Santana, sofre processo de cassação após denunciar corrupção da prefeitura
Parlamentar já expôs mais de 30 denúncias em suas redes sociais; Funcionários fantasmas, nepotismo e outras irregularidades aparecem na lista
Redação Odara
Perla Santana (AVANTE), mais conhecida como Perla de Tabaréu, é vereadora de primeiro mandato em Muritiba (BA), cidade com cerca de 30 mil habitantes, no Recôncavo da Bahia. Durante os últimos meses, a parlamentar tem se destacado nas redes sociais pela série de denúncias que vem fazendo acerca da gestão do prefeito Danilo Marques (PSD), o Danilo de Babão.
Em seu perfil no Instagram, a vereadora já expôs mais de 30 denúncias. A maioria delas diz respeito a licitações superfaturadas, além de amigos, familiares e cabos eleitorais do prefeito recebendo salários pela folha de pagamento da prefeitura sem, de fato, atuar nas funções pelas quais recebem. Também há denúncias de funcionários ligados ao prefeito que recebem salários superiores ao teto da função exercida.
Uma das denúncias que chama a atenção é a de que a própria namorada do prefeito, Magna Passos, aparece na folha de pagamento como nutricionista do município, recebendo por 40 horas semanais. A denúncia aponta ainda que o nome de Magna também consta na folha de pagamento da cidade vizinha de Sapeaçu, com a mesma função e carga horária.
Segundo a vereadora, todas as informações apresentadas podem ser comprovadas por meio de documentação disponível no Tribunal de Contas do Município (TCM) e as denúncias foram enviadas ao Ministério Público para os devidos encaminhamentos.
Pedido de cassação
No último dia 7 de fevereiro, a Câmara de Vereadores de Muritiba recebeu e aceitou, por 10 votos a 1, um pedido de cassação do mandato de Perla impetrado por Evanildes Pereira da Paz.
A Professora Vaninha, como Evanildes é conhecida, foi apontada em uma das denúncias publicadas no Instagram pela vereadora como uma das funcionárias fantasma do município. No pedido de cassação apresentado à Câmara, ela argumenta que se sentiu “conturbada mentalmente” pela forma como a denúncia foi exposta na internet e cita mais 13 pessoas que, segundo ela, também se sentiram ofendidas com a denúncia.
O documento está sendo analisado pela comissão processante da Câmara de Muritiba que, na última terça-feira (28), recomendou a continuidade do processo pela possibilidade de haver “conduta incompatível com a dignidade própria do Poder Legislativo e/ou ausência de decoro parlamentar” por parte da vereadora.
Em defesa apresentada à casa legislativa, Perla argumenta que o processo está sendo utilizado como mecanismo de vingança. “Dizem que eu tive quebra de decoro parlamentar, mas eu estava apenas fazendo o meu trabalho no exercício do meu mandato”, afirmou a vereadora em entrevista ao Instituto Odara.
Uso das redes sociais para engajamento político
Perla é a única mulher ocupando uma das 11 cadeiras da Câmara de Vereadores de Muritiba, além de ser a única vereadora que faz oposição à gestão do prefeito Danilo. Ela conta que quando começou a perceber as irregularidades que aconteciam na gestão municipal, passou a ter uma postura mais combativa, mas não era ouvida por seus colegas vereadores.
Não encontrando espaço e apoio na Câmara, Perla passou a criar, então, novas estratégias políticas. “Eu percebi que seria desgastante continuar batendo de frente na Câmara e também sei que boa parte das pessoas não se interessa por política. Então, juntei minha equipe e decidimos investir na comunicação com os eleitores via redes sociais”, contou.
Utilizando músicas, prints de documentos e memes, a vereadora começou a postar vídeos de denúncia em suas redes e logo começou a ganhar seguidores e o apoio da população de Muritiba. “Foi assim que as pessoas passaram a conhecer meu trabalho de fiscalização”, explicou.
Atualmente, seu perfil no Instagram conta com mais de 5 mil seguidores e inúmeras mensagens de apoio. “Força, Vereadora!! Querem nos calar a todo tempo. Não iremos desistir de lutar pelo bem comum”, comentou uma seguidora em um dos posts sobre o processo de cassação.
Violência política racial e de gênero
A vereadora nos contou que não sabe ao certo o que motivou os vereadores a acatarem o pedido de cassação, mas acredita que sua presença na Câmara incomoda aos demais e “causa um transtorno” à manutenção do poder masculino. “São dez homens na Câmara. Eles não aceitam ver uma mulher negra e de periferia batendo de frente com o sistema e tendo o apoio da população”, enfatiza Perla.
No dia 24 de fevereiro, 12 vereadoras de diversos municípios baianos estiveram em Muritiba para realizar um ato em apoio a Perla e defender a garantia da participação das mulheres na política.
A vereadora afirma que continuará denunciando a corrupção e que lutará por todos os meios para garantir os seus direitos e seu espaço na política. “Estamos há muito tempo lutando para ter o nosso espaço e não podemos aceitar que isso aconteça, porque é uma forma de ‘matar’ as mulheres na política”, conclui.
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